Um contexto multidimensional do cuidado

     

       Espiritualidade, humanização, formação e assistência profissional. Será que dá para misturar estes ingredientes quando se fala em Saúde? Possíveis respostas foram exploradas, por diferentes prismas, durante a mesa-redonda Cuidados paliativos e Oncologia: Para aonde aponta nossa esperança? O tema abriu os debates da plenária 1, no anfiteatro Ney Palmeiro, no dia 23 de agosto. Na coordenação e moderação estiveram as professoras Andréa Augusta Castro e Ana Cláudia Chazan, ambas da Medicina Integral da FCM-Uerj. A primeira é coordenadora também do Núcleo de Cuidados Paliativos do Hupe, e a segunda gerenciou um dos cursos mais concorridos do Congresso, o Comunicação de Más Notícias.

        A mesa abriu um leque de observações sobre a questão do que é efetivamente Cuidado paliativo, desde a definição à formação dos profissionais nesta área tão sensível. Para Andréa Castro, um dos pontos focais é tratar o tema com a profissionalização que ele merece. “O principal é integração entre a assistência à Saúde e a formação. Produzindo conhecimento a partir do que estamos fazendo nos nossos serviços e qualificando os profissionais. Cuidados paliativos exige qualificação, assim como a abordagem psico espiritual. Que tudo isso faça parte dos nossos currículos. Não só da medicina , mas de todo curso da área da Saúde”, enfatizou. Ana Cláudia Chazan complementou também que, quando se fala em formação, deve-se levar em conta que trata-se de uma geração de profissionais que está aprendendo a lidar com o processo de cura. “É importante pensar que a formação em Saúde precisa ser de fato integral, acolher os profissionais de hoje que são jovens adultos que estão entrando nesta vida profissional e lidando com sofrimento, dor e morte” pontuou a moderadora.

        Durante a exposição da psicóloga residente do Hupe, Mariana Rabello, que também atua no Núcleo de Cuidados Paliativos da Unidade, outro aspecto entrou em debate: a importância dos grupos de apoio para o paciente e as famílias em situação de ameaça à vida. “O grupo de acolhida tem funções como proporcionar um espaço para sustentar a escuta do que pode ser muito difícil de ser escutado”, enfatizou Mariana. Ela lançou ainda a questão da palavra “Esperança” como uma das mais citadas nas trocas destes grupos. “E para aonde aponta esta esperança?”, questionou.

        DEUS E EXPERIÊNCIA EXISTENCIAL  – Entre as possibilidades de resposta a esta pergunta veio a exposição do professor da Faculdade de Enfermagem da Uerj (FENF-Uerj), Antonio Marcos Tosoli Gomes que lidera o grupo de pesquisa de espiritualidade e religiosidade no contexto de cuidado de enfermagem e saúde. Ele destacou a importância de se entender o contexto religioso e espiritual do paciente para poder acolher e atendê-lo de forma efetiva. “Espiritualidade, Religiosidade, Religião são coisas distintas. Mas esta separação conceitual faz sentido para nós, acadêmicos. Para o paciente, está tudo misturado. Para ele, Deus é o companheiro que está com ele na sala de espera. É com quem ele fica bravo se nada dá certo. Deus, para o nosso povo, é uma experiência existencial;  É preciso que levemos isso em consideração quando estivermos atendendo, para que o paciente produza sentido a partir do seu quadro espiritual, religioso… este é grande desafio. A condição de sentido de um cristão não é mesma de um islâmico”, explicou.

         Outro olhar sobre Cuidados paliativos foi a exposição de que o termo transcende o ambiente hospitalar. Um exemplo prático foi apresentado pelo enfermeiro e  professor Alexandre Ernesto Silva, da Universidade Federal de São João Del Rey e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele é fundador do Projeto Comunidades Compassivas, que se traduz em montar uma rede de atenção e cuidados capacitando a própria comunidade em dar apoio às pessoas da região que precisam de acolhimento, a partir de eixos como compaixão. “Entendam que Compaixão é quando a dor que foi gerada em mim gera uma ação que alivia a dor do outro e a minha”, disse Alexandre. No Brasil, o Rio ancorou a primeira iniciativa deste gênero, na Rochinha e Vidigal. Hoje o projeto já foi disseminado em outros estados como Belo Horizonte, São Paulo, Goiânia. “Conforto e qualidade de vida geram dignidade. E quando se fala em dignidade, cada um tem um olhar”, resume Alexandre. E é por isso que Andréa Augusta arrematou: “Cuidado Paliativo é Multidimensional”.

            Quem quiser saber mais sobre o tema pode acessar o vídeo desta mesa redonda pela plataforma do evento ou em www.youtube.com/hupehospital a partir de 10 de setembro. 


Alexandre: Compaixão e dignidade

 
Ana Chazan:  “Integralidade

 


Andréa Castro:  “Cuidado paliativo é Multidimensional”


Antonio Marcos Tosoli: Espiritualidade 



Mariana Rabello: Grupos de apoio